Destaques da Biblioteca de História das Ciências e da Saúde
A escrita da história.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
Neste livro, Michel de Certeau identifica as etapas fundamentais da historiografia e suas diferentes abordagens ao longo do tempo, estabelecendo um diálogo entre várias áreas do conhecimento. Religião, epistemologia, metodologia e semiótica convivem e convergem para o mesmo objetivo: traçar o itinerário de um historiador e o percurso das interrogações que levam ao desenvolvimento da sua narrativa. Nesse processo, o autor recorre, também, à filosofia e à psicanálise - que sustentam as observações sobre diferença, corte e descontinuidade-, sempre norteado pelo olhar da política e da ética. A historiografia resulta da articulação da lenda, da narrativa e do discurso. Tem a função de afastar a tradição vivida para torná-la objeto de um saber. O processo de escolha dos fatos a serem registrados poderia levar a História a ser vista como um fruto direto do envolvimento do historiador. Tal ponto de vista, na historiografia moderna, é questionável, pois a seleção e transformação dos fatos em objetos de pesquisa constitui, em si, um método científico. Por isso, Michel de Certeau submete o registro histórico a uma análise rigorosa, caracterizando as operações que regulam a escrita da história a partir de um outro modelo de inteligibilidade. (Au.)
Aprender com a história? o passado e o futuro de uma questão.
NICOLAZZI, Fernando; MOLLO, Helena Miranda; ARAUJO, Valdei Lopes de (Org.). Aprender com a história? o passado e o futuro de uma questão. Rio de Janeiro: FGV, 2011.
Aprender com a história? O passado e o futuro de uma questão é resultado de uma provocação feita aos autores pela organização do III Seminário Nacional de História da Historiografia, realizado em 2009 em Mariana, na Universidade Federal de Ouro Preto. É possível aprender com a história? O que se aprende e como isso é feito? Essas perguntas têm recebido diversas e, muitas vezes, polêmicas respostas. Aqui, o tema é abordado de diferentes perspectivas, desde as clássicas afirmações de uma historia magistra vitae, passando pelas filosofias e ciências da história até o enfrentamento das diversas crises de legitimação da historiografia. (Au.)
Autoria e história cultural da ciência.
CHARTIER, Roger. Autoria e história cultural da ciência. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012.
Neste livro, reunimos um conjunto de textos sobre história cultural e história da ciência. Focalizamos especificamente a história da autoria. As correlações históricas entre o nome do autor, a assinatura e a obra aparecem de muitas maneiras. Em diferentes momentos, a caracterização de autor científico e de um autor literário pode obedecer a distintos critérios de atribuição. Tal reflexão histórica ilumina a discussão na atualidade quando a produção intelectual e o campo editorial se inserem na sociedade da informação e se disseminam através de redes eletrônicas. No entanto, com todo o seu potencial inovador, as tecnologias e os meios digitais até o momento continuam coexistindo com os livros e as publicações impressas, instrumentos de leitura que se mostram insubstituíveis, apesar dos novos instrumentos fornecidos pela revolução tecnológica. (Priscila Faulhaber e José Sérgio Leite Lopes)
O historiador e suas fontes.
PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tânia Regina de. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2013.
Como o pesquisador, na prática do seu ofício, pode trabalhar com fotografias, obras literárias, cartas, diários, discursos e pronunciamentos, testamentos, inventários, registros paroquiais e civis, processos criminais, materiais produzidos por órgãos de repressão ou mesmo com as inúmeras fontes do patrimônio cultural? Em O historiador e suas fontes, um grupo de historiadores experientes responde a essa questão, expondo um repertório variado de fontes interessantes e suas formas de utilização. A obra mostra também por que certos documentos adquirem maior ou menor relevância ao longo do tempo e em que isso afeta a História e a memória. Fala ainda de como os debates historiográficos, ao sabor das tendências modernas e pós-modernas alteram o uso das fontes históricas e afetam o ofício do historiador. O historiador e suas fontes é, portanto, uma instigante discussão sobre teoria e prática da História. (Au.)
História e historiografia
RODRIGUES, José Honório. História e historiografia. Petrópolis: Vozes, 2008.
Editada pela primeira vez em 1970, esta coletânea de textos diversos organizada pelo próprio autor apresenta-se agora de forma mais compactada. A seleção de artigos dentro desta obra original visou atender mais especificamente ao público leitor voltado diretamente para o estudo acadêmico de História, que inclui entre as disciplinas indispensáveis à formação do historiador aquelas que tratam da teoria e da metodologia da História, bem como aquelas que buscam estabelecer uma reflexão consciente sobre a historiografia até hoje produzida por autores nacionais e internacionais. Neste sentido, são muito importantes nos dias de hoje os estudos sobre grandes historiadores do passado, como Varnhagen, Capistrano de Abreu ou Arnold Toynbee, para já citar alguns daqueles que José Honório Rodrigues aborda nos textos reunidos nesta coletânea. As discussões historiográficas sobre temas e conceitos específicos, sobre modos de conceber a História e criar periodizações, sobre' posturas do historiador diante do seu objeto historiográfico, são igualmente imprescindíveis para o historiador em formação. Por isto o novo recorte de textos a partir da coletânea original visou abarcar precisamente estas questões e outras que permanecem extremamente atuais. (Au.)
Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados.
PERICÁS, Luiz Bernardo; SECCO, Lincoln (Org.). Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014.
Nesta obra, organizada pelos historiadores Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco, reúnem-se estudos e ensaios sobre alguns dos principais intérpretes da história e da cultura no Brasil, escritos por reconhecidos especialistas acadêmicos. [...] A novidade desta publicação é que os coordenadores trouxeram para o centro do debate figuras que estavam um tanto à sombra, como, a despeito de seu papel histórico, o venerando Astrojildo Pereira, ou o crítico da conciliação José Honório Rodrigues. Também são contemplados Heitor Ferreira Lima, Octávio Brandão, Luís da Câmara Cascudo, Leôncio Basbaum e os inquietos Mário Pedrosa e Darcy Ribeiro, além de Everardo Dias, Rômulo Almeida, Nelson Werneck Sodré e Rui Facó. Incluem-se, ainda, autores mais "novos" e menos compendiados, como os heterodoxos e brilhantes Maurício Tragtenberg ("no Brasil não há cidadãos, mas súditos-contribuintes", ironizava), Jacob Gorender, Ruy Mauro Marini e Milton Santos (que alertava: "não se deve confundir a moda com o modo"), o laborioso Edgard Carone e personalidades da importância histórica de Paulo Freire e Ignácio Rangel. (Carlos Guilherme Mota.)
Lugares para a história.
FARGE, Arlette. Lugares para a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
Neste livro, Arlette Farge reflete sobre a responsabilidade do historiador diante do presente: pensar o sofrimento, a crueldade, a violência, a guerra sem reduzi-los a fatalidades é também querer explicar os dispositivos, os mecanismos de racionalidade que os fizeram nascer. As ciências do homem sempre tenderam a considerar o campo emocional como resultante apenas do fisiológico, dos sentimentos. Ora, o sofrimento humano não é anedótico: o acontecimento singular é um momento de história. A opinião das pessoas, a fala, o acontecimento que sobrevêm fazem parte dos lugares políticos da história. Do mesmo modo, a diferença dos papéis sexuais não é uma fatalidade; ela está submetida às variações da história. Lugares para a história fomenta uma discussão fundamental para o historiador: reinterpretar a história de acordo com o nosso presente. (Au.)
O velho vaqueano: Capistrano de Abreu (1853-1927): memória, historiografia e escrita de si.
GONTIJO, Rebeca. O velho vaqueano: Capistrano de Abreu (1853-1927): memória, historiografia e escrita de si. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.
O presente estudo almeja contribuir para a compreensão do processo de construção do nome de um historiador, investigando sua recepção em diferentes momentos, bem como suas próprias ações - no plano da escrita sobre si mesmo e sobre seu próprio fazer -, no sentido de afirmar-se como intelectual, leitor, escritor e estudioso da história. Assim, a recepção não é focalizada por meio das leituras da obra de Capistrano de Abreu, mas pela análise de um conjunto de investimentos que contribuíram, em maior ou menor medida, para a consolidação de seu nome. Isso é particularmente interessante, se consideramos que a maior parte da obra desse historiador é composta por traduções, artigos, resenhas, prefácios e cartas, reunidos em livros postumamente. Esse caráter disperso, percebido por seus contemporâneos, permite construir a hipótese de que se trata de um caso em que o nome precede a obra e serve como norte a orientar sua constituição.(Au.)
Os vigilantes da ordem: a cooperação Deops/SP e SNI e a suspeição aos movimentos pela anistia (1975-1983).
RESENDE, Pâmela de Almeida. Os vigilantes da ordem: a cooperação Deops/SP e SNI e a suspeição aos movimentos pela anistia (1975-1983). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2015.
Um arquivo, bem sabemos, não se reduz a um espaço físico. Ao preservar os rastros da sua própria atividade, ele remete igualmente aos gestos que reúnem, coletam, selecionam, reservam, descartam e organizam os documentos. Do mesmo modo, é uma instituição dotada de discursos que lhe são próprios e travejada por relações de poder que sancionam e interditam práticas sociais e políticas. O desafio de todo historiador é sempre o de reconhecer e analisar as forças que fazem de um arquivo uma instituição de saber, com seus protocolos, suas próprias regras, organicidade, divisão de trabalho e distribuição de poder.' E é justamente isso o que Pâmela Resende faz em Os vigilantes da ordem, originalmente uma dissertação de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp, que recebeu o Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas. O resultado é esta publicação muito oportuna, sobretudo num momento em que a Lei da Anistia e sua necessária revogação encontram-se no centro dos debates sobre os rumos dos direitos humanos no país.(Fernando Teixeira da Silva - Professor do Departamento de História da UNICAMP.)
A assistência em crise: a Santa Casa da Misericórdia do Maranhão na segunda metade do século XIX (1850-1890).
COE, Agostinho Júnior Holanda. A assistência em crise: a Santa Casa da Misericórdia do Maranhão na segunda metade do século XIX (1850-1890). 2013. 203 f. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) - Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2013.
Este trabalho analisa como a assistência proporcionada pela Santa Casa da Misericórdia do Maranhão consubstanciou as relações entre as elites locais e o Poder Imperial, gerando alianças e conflitos e como se deu a simbiose entre a Santa Casa e as administrações provinciais em São Luís, pois em 1850 o cargo de provedor da Misericórdia passou a ser exercido exclusivamente pelos presidentes da província. A partir deste momento coube aos presidentes-provedores qualificar a crise financeira da instituição e apontar caminhos para solucionar os principais problemas no plano da assistência praticada pela Santa Casa da Misericórdia. Em 1890 temos o decreto que vetou a intervenção do poder público no regime econômico dos institutos e associações de caráter religioso, estabelecendo o fim da obrigatoriedade do cargo de provedor da Misericórdia ser desempenhado pelos presidentes da província que passaram pelo Maranhão. Analisaremos a segunda metade do século XIX em São Luís a partir de suas crises econômicas recorrentes e que modificarão alguns dos serviços prestados pela Santa Casa da Misericórdia em São Luís. (Au.)
A divulgação científica na Associação Brasileira de Educação: o caso da Seção de Higiene (1924-1932).
BURLAMAQUI, Mariana Mello. A divulgação científica na Associação Brasileira de Educação: o caso da Seção de Higiene (1924-1932). 2013. 101 f. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2013.
A dissertação analisa as ações em divulgação científica realizadas pela Associação Brasileira de Educação (A.B.E.) no período de 1924 a 1932, com destaque para os conteúdos veiculados por sua seção de higiene. Os seus principais personagens, os temas na área de saúde e a relação da A.B.E. com outras instituições nacionais e internacionais também foram abordados nessa pesquisa. A A.B.E. foi criada por intelectuais de diferentes formações e buscou ser um pólo aglutinador entre instituições, escolas e pessoas interessadas em discutir a "educação nacional". Sob essa expressão, na época, estavam incluídas agências e modalidades formais e não formais de ensino com vistas ao projeto comum de popularização do conhecimento científico no país. (Au.)
Para uma ciência da brasilidade: a institucionalização da pesquisa folclórica e etnográfica em São Paulo na década de 1930.
Este trabalho discute a contribuição do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo para a institucionalização das ciências sociais no Brasil com base na criação, na década de 1930, da primeira comunidade brasileira de pesquisadores especializados no estudo cientifico das tradições populares - a Sociedade de Etnografia e Folclore. A partir das transformações políticas e sociais ocorridas no estado de São Paulo desde a década anterior, são analisadas as conexões estabelecidas entre os projetos científicos e culturais emergentes a época e a movimentação política em curso. Na sequência, também são discutidas as relações de colaboração e concorrência entre os diferentes protagonistas do processo de institucionalização das ciências sociais e suas consequências para o desenvolvimento das linhas de pesquisa então iniciadas. Por fim, com base nas análises de Sergio Miceli, sobre a criação de instituições governamentais dedicadas ao trabalho intelectual especializado, e na tese de Luiz Rodolfo Vilhena, sobre a marginalização dos Estudos de Folclore na segunda metade do século XX, a investigação também enfoca o diálogo constituído a época entre a Sociologia e os Estudos de Folclore, destacando o caráter aglutinador do projeto cientifico decorrente da colaboração entre o escritor Mario de Andrade e dois jovens pesquisadores franceses: a antropóloga Fernande Dina Dreyfus e seu marido, Claude Lévi-Strauss. (Au.)
A sublimação do ‘id primitivo’ em ‘ego civilizado’: o projeto dos psiquiatras-psicanalistas para civilizar o país (1926-1944).
O objeto deste trabalho é a circulação e as apropriações da psicanálise pela psiquiatria no Rio de Janeiro no início do século XX. O objetivo principal será o de investigar de que modo a teoria psicanalítica foi recepcionada pelos psiquiatras num amplo contexto de discussão de projetos para a nação brasileira. Para demarcar o grupo de psiquiatras-psicanalistas no Rio de Janeiro no recorte em questão, nos apropriamos do conceito de geração proposto pelo sociólogo Karl Mannheim (1928). Através da proposta metodológica da teoria da recepção/teoria da ação e as discussões sobre as relações entre recepção e circulação de teorias científicas, trabalhamos com a concepção de que não existem interpretações falsas ou corretas quando se fala em recepção de textos, mas sim que a interpretação de cada leitor sobre determinada obra se dá a partir de influências sociais, históricas e experiências pessoais. Nesse sentido, adotando como recorte cronológico os anos de 1926 a 1944, buscamos mostrar como os discursos médicos psiquiátricos que se fundamentavam em pressupostos psicanalíticos tentavam dar conta de detectar e educar o primitivismo do brasileiro (o id nacional), com o intuito de ajustar seus valores e comportamentos aos ideais do mundo moderno e civilizado. A função da teoria psicanalítica neste projeto seria sustentar os discursos que recomendavam a educação ou evolução do “id primitivo” brasileiro (ligado às paixões, aos impulsos, aos excessos, aos comportamentos desviantes) para que se transformasse num “ego civilizado”, para enfim se encontrar a identidade nacional. (Au.)